A partir da década de 60, o slasher passou a ganhar mais notoriedade entre os amantes do terror e do cinema. Foram lançados cada vez mais filmes sobre assassinos que matavam suas vítimas, geralmente adolescentes, de forma extremamente sangrenta. Saíram muitos filmes clássicos conhecidos por muitos como Psicose e O Massacre da Serra Elétrica, e filmes desconhecidos pela maioria do público, mas com uma qualidade imensa, como Black Christimas. Da década de 80 até a de 90 os slashers filmes emplacaram de vez nos cinemas. Franquias imensas como Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo surgiram nesses anos e outras produções conhecidas pelos fãs, como Dia dos Namorados Macabro, também foram lançados nesse período. A conhecida “onda slasher” dependeu de muitos fatores, e um dos mais importantes foi o lançamento de Halloween em 1978. A produção definiu e solidificou vários clichês do gênero, sendo considerado por muitos como um excelente filme, cheio de tensão, e que figura na lista dos maiores slashers de todos os tempos.

Uma obra-prima desde o início

Como vocês imaginariam a abertura de um filme de terror? Uma grande cena de susto? A apresentação da face medonha do grande vilão da história? Uma tortura sem sentido que só seria explicada após alguns minutos de filme (isso se fosse explicada)? Pois é, John Carpenter fugiu de todos esses clichês e estereótipos e nos apresentou uma icônica cena inicial, estabelecendo desde esse momento quem é Michael Myers e o que ele é capaz de fazer.

A tensão construída por Carpenter é de se admirar. Ele, hora alguma antes do assassinato, mostra a face da pessoa por trás daquilo. Usando uma imagem em primeira pessoa, o assassino lentamente abre uma das gavetas da cozinha e empunha uma grande faca. Sobe as escadas tranquilamente, abre a porta do quarto da vítima, a observa durante segundos e posteriormente a esfaqueia até a morte. Uma linda criança, colocando uma máscara de palhaço e assassinando friamente sua irmã mais velha, que estava nua em seu quarto. Nos apresentar a personalidade forte e impiedosa do grande vilão da trama sem dizer uma única palavra e sem deixar o espectador visualizar o rosto do assassino é genial. E o mais impressionante de tudo é nos chocarmos de verdade descobrindo que o grande autor de tudo aquilo era uma criança. O puro mal.

Em 2007 foi lançado um reboot dirigido por Rob Zombie, do qual muitos fãs reclamam, dizendo que o diretor não foi capaz de estabelecer em trinta minutos o que Carpenter conseguiu em apenas três.

A força dos personagens

Popularmente usa-se o termo “scream queen” para atrizes que são associadas às suas personagens em filmes de terror, onde, geralmente, interpretam as vítimas dos filmes. A atriz Jamie Lee Curtis é reconhecida como uma das maiores scream queens do cinema, tendo atuado em filmes como A Morte Convida para Dançar, O Trem do Terror A Bruma Assassina. Foi com Halloween que essa “fama” começou, tornando-se seu papel mais famoso. Jamie Lee interpreta a protagonista Laurie Strode, que nos quatro dos oito filmes da franquia em que ela aparece, vê-se um crescimento da personagem. No primeiro filme, ela é relutante em acreditar na existência do “Bicho-Papão” que Tommy, o garotinho que ela cuida, tanto fala, e em diversas partes da trama se mostra forte, muitas vezes com medo de enfrentar a figura assustadora e imponente que é Michael Myers, mas nunca hesita em atacá-lo em situações de risco. Jamie Lee não só construiu uma grande personagem, como foi capaz de estabelecer uma das figuras femininas mais fortes no mundo dos filmes de terror.

O roteiro de John Carpenter e Debra Hill desenvolve muito bem a complicada relação de médico e paciente entre o Dr. Samuel Loomis e Michael Myers. Loomis, nos primeiros anos que tentou cuidar da criança, buscou encontrar algum resquício da inocência infantil em Michael, mas depois percebeu que o menino era, em suas próprias palavras, o mal encarnado. Donald Pleasence, que é o responsável pela interpretação do personagem, faz um trabalho admirável, onde o espectador percebe pela urgência de sua voz o perigo que Michael traz consigo. Donald ficou marcado no papel e acabou o reprisando mais quatro vezes.

O Puro Mal

Muitos que assistem filmes de terror reclamam da “imortalidade” de certos personagens. Figuras como Jason Voorhees, Freddy Krueger, Michael Myers, entre outros, nunca são abatidos pelos mocinhos da história, e sempre voltam para atormentar outros personagens nas muitas sequências produzidas por hollywood. Bem, mais que a ambição dos estúdios por quererem ganhar dinheiro, nós cremos que exista outra grande explicação para isso tudo. Esses personagens são imortais pois representam o mal puro, e nós sabemos que o mal puro nunca morre. Eles sempre voltam, como o mal volta para vida das pessoas.

Como citado anteriormente, falando sobre a cena de abertura do filme, Michael é estabelecido como o Puro Mal desde o início. Mata friamente a irmã mais velha e durante o resto do filme persegue a personagem Laurie Strode, novamente na intenção de tirar outra vida. O Puro Mal celebra a inversão da moral e o pecado como sendo grotescas virtudes, sem qualquer sombra de arrependimento; o caminho da iniquidade é sentido com orgulho. O Puro Mal não se limita a ferir quem o escolhe, pois arrasta consigo uma multidão de pessoas que ele encontra no seu percurso.

Direção magistral e trilha sonora icônica

Encarregado também da direção, John Carpenter faz com que Halloween se torne extremamente reconhecido devido a sua atmosfera imersiva e tensão alcançada por poucos filmes do gênero. Os ataques de Michael nunca são em momentos previsíveis, já que Carpenter brinca com a expectativa do espectador sempre adiando o ataque, fazendo com que a experiência se torne imprevisível e o espectador fique ansioso para o que está por vir. A trilha sonora é muito bem aplicada e ajuda de uma maneira totalmente orgânica a construir toda essa tensão da história. No seu ato final as mortes começam ocorrer com mais frequência e Carpenter consegue aproveitar tudo que ele tem em suas mãos, criando uma experiência chocante e impactante. Com notas simples, porém assustadoras, a icônica e inconfundível faixa principal do filme transmite a essência angustiante e atmosfera medonha necessária para a produção. Não é exagero dizer que John Carpenter criou um espetáculo para os amantes do gênero.

Existem muitas palavras para definir Halloween. Tenso, excitante, assustador, clássico, marcante. Todas elas se aplicam de forma perfeita ao grande filme de Carpenter. Um importante marco para o slasher. Aos que ainda não tiveram a oportunidade de conferir o filme, essa foi uma pequena e singela recomendação de dois grandes fãs dos filmes de terror/suspense.

Crítica feita com a colaboração do meu querido amigo Pedro Fernandes.

Halloween (Halloween) – Estados Unidos, 1978, cor, 91 minutos.
Direção: John Carpenter. Roteiro: John Carpenter e Debra Hill. Música: John Carpenter. Produção: John Carpenter, Debra Hill, Kool Lusby, Irwin Yablans e Moustapha Akkad. Cinematografia: Dean Cundey. Direção de fotografia: Joel Cox e Gary D. Roach. Elenco: Jamie Lee Curtis, Donald Pleasence, Charles Cyphers, Nancy Kyles, P. J. Soles, Kyle Richards, Brian Andrews, etc.

 

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!