Era uma linda manhã de primavera. O sol brilhava, as flores nasciam, os pássaros cantavam. Ele estava muito feliz, pois tudo estava prosperando em sua vida. Paz. Harmonia. Serenidade. A recompensa pelos seus esforços finalmente havia chegado. Mas ele cometeu o terrível erro de imaginar que agora estava imune a todo tipo de problemas e que o conforto duraria para sempre.

As horas foram passando. A primavera foi embora e deu lugar ao verão. O sucesso subiu-lhe à cabeça. Sua felicidade foi sendo distorcida até se transformar em soberba. Ele agia de maneira irresponsável, com o ego inflado, despreocupado com o amanhã. Havia se esquecido dos valores que moldaram seu caráter, que lhe guiaram para que pudesse chegar aonde chegou. Achava que tudo já estava terminado e que agora era livre para fazer o que bem entendesse. Que o mundo girava em torno dele. Estava corrompido. O sol foi ficando cada vez mais forte. A claridade luminosa da manhã se tornou cegante, e o calor moderado e agradável se intensificou até ficar insuportavelmente escaldante.

Caiu o entardecer, e o outono o seguira. O céu ficou nublado e os ventos ficaram frios. As consequências de suas ações começaram a lhe atingir. Tudo o que ele construiu estava a desmoronar. Sua coroa caiu e seu castelo ruía. Lentamente, como o cair das folhas das árvores, tudo o que ele havia conquistado era reduzido a pó e dissipado como lágrimas na chuva. Sua cova estava sendo cavada e a pá estava em suas mãos.

O anoitecer chegou e com ele veio o inverno. Ele estava desesperado, todos os seus esforços para escalar o poço em que se encontrava só o afundavam cada vez mais. Ele estava perdido, vagando sem rumo em uma estrada que não levava a lugar nenhum, cercado apenas por neve e escuridão. Já não tinha forças para continuar. Aos poucos, sucumbia cada vez mais ao abismo que o contemplava. E então ele desistiu. Se jogou no chão e deixou que a neve cobrisse todo o seu corpo. Fechou os olhos e se entregou totalmente ao desamparo…

… e então os abriu novamente, e enxergou, de relance e com a visão embaçada, uma escada.

À princípio, ignorou-a. Mas, ainda que com enorme relutância, ele queria poder alcançá-la, porque, lá no fundo, ele sabia que não queria morrer congelado. Aos poucos, suas chamas interiores iam se acendendo novamente. Lentamente, ele ia ascendendo novamente. Os valores há muito esquecidos estavam sendo resgatados. Vagarosamente, ele se ergueu, elevou suas mãos, e, com muito esforço, conseguiu alcançá-la.

Ele resistiu à mais longa das noites e pôde viver para ver um novo amanhecer.

O sol ressurgiu. Toda a neve havia derretido e as flores nasciam de novo. Mas desta vez seria diferente. Desta vez, a primavera duraria para sempre.

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Sobre o Autor

21 anos. Apreciador de cinema, literatura, quadrinhos e heavy metal.