Após uma recepção em sua maioria negativa de A Ameaça FantasmaGeorge Lucas estava receoso em voltar a escrever. Em março de 2000, apenas três meses antes da fotografia principal começar, Lucas finalizou o rascunho para o Episódio II. Ele continuou a iteração em seu rascunho, produzindo dois roteiros diferentes para o filme. Lucas buscou ajuda com o terceiro roteiro, que mais tarde se tornaria o roteiro de filmagem, chamando Jonathan Hales, que tinha escrito vários episódios de The Young Indiana Jones Chronicles (uma série baseada na juventude do personagem Indiana Jones, criado pelo próprio Lucas com a ajuda de Steven Spielberg, lançada entre 1992 e 1993) para ele, mas tinha experiência limitada com longa-metragens de cinema. O roteiro final ficou pronto apenas uma semana antes das filmagens começarem. Como brincadeira, o título de produção do filme foi Jar Jar’s Big Adventure, uma referência bem legal e engraçada em relação à negativa recepção do personagem no Episódio I.

Nas primeiras versões do roteiro, Lucas desenvolveu essencialmente o enredo e a estrutura narrativa. Em seguida, ele retrabalhou muitos passagem com Hales. Uma terceira versão foi então escrita. Como não era a versão final do roteiro, o novo ajudante do criador da saga o ajudou durante as filmagens na Austrália. Algumas cenas foram reescritas nas filmagens, incluindo a relação entre Anakin e Padmé. Ataque dos Clones estreou mundialmente em 16 de maio de 2002. Os críticos e a maioria do público (eu incluso) elogiaram os efeitos visuais, figurinos, trilha sonora, sequências de ação, e a performance de Ewan McGregor como Obi-Wan Kenobi, mas criticaram o romance do jovem Skywalker com a rainha Amidala, os diálogos, a maioria das atuações e o ritmo do filme. O Episódio II arrecadou mais de 640 milhões de dólares ao redor do mundo, tornando-se um sucesso financeiro. No entanto, foi o primeiro filme de Star Wars a não ficar em primeiro lugar no ano de lançamento, ocupando o terceiro lugar no mercado interno e o quarto internacionalmente. Nesse segundo capítulo da segunda trilogia, George Lucas quis começar uma nova fase da jornada de Anakin, fazendo-o descobrir emoções mais intensas, como raiva, ódio, sentimentos de perda, posse e ciúmes.

Outra jornada longa e cansativa

Dez anos se passaram após a invasão de Naboo pela Federação de Comércio, e a República Galáctica está ameaçada por um movimento separatista organizado pelo ex-mestre Jedi Conde Dooku (Christopher Lee), que atualmente serve ao lado sombrio da Força. A ex-rainha de Naboo e agora Senadora, Padmé Amidala (Natalie Portman), viaja para a capital galáctica de Coruscant no intuito de votar uma emenda para criar um exército e ajudar os Jedi contra esta ameaça. Evitando por pouco uma tentativa de assassinato na chegada, ela é colocada sob a proteção de dois Jedi, o jovem Anakin Skywalker (Hayden Christensen) e seu mestre, Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor), ambos velhos conhecidos da alteza. Os dois Jedi impedem uma segunda tentativa de assassinato e subjugam a assassina, uma metamorfa que logo é morta por seu cliente caçador de recompensas antes que ela possa revelar a sua identidade. O conselho Jedi atribui a Obi-Wan a missão para identificar e capturar o caçador de recompensas para descobrir por que motivo estão querendo matar a senadora, enquanto seu aprendiz Anakin é atribuído a escoltar Padmé de volta para Naboo, onde os dois iniciam um romance proibido.

A investigação de Obi-Wan leva-o para o remoto planeta oceânico Kamino, onde ele descobre um exército de clones está sendo produzido para a república, com o caçador de recompensas Jango Fett (Temuera Morrison) servindo como seu modelo genético. Obi-Wan deduz que Jango é o caçador de recompensas que está procurando, e segue ele e seu filho clone, Boba Fett (Daniel Logan), para o planeta desértico Geonosis através de um rastreador colocado na sua nave, a Slave I. Enquanto isso, Anakin passa a ter pesadelos com sua mãe, Shmi Skywalker (Pernilla August), em que esta estar sendo torturada, e viaja para Tatooine, seu planeta natal, contando com a ajuda de Padmé para salvá-la. Eles se encontram Owen Lars (Joel Edgerton), meio-irmão de Anakin, fruto de um novo relacionamento que sua mãe teve após o garoto deixar o planeta quando pequeno. Anakin descobre que Shmi foi sequestrada pelo Povo da Areia semanas antes e pode provavelmente estar morta. Determinado a encontrá-la, o jovem Skywalker começa a procurá-la e a encontra no acampamento do Povo da Areia. Sua mãe, infelizmente, morre em seus braços devido a tortura realizada pela tribo. Enfurecido, Anakin massacra a tribo, mostrando pela primeira vez a quantitativa ira que o preenche, e depois retorna para a fazenda de Lars com o corpo de Shmi, para que seu velório fosse realizado. Após revelar, transtornado, o que fez a Padmé, Anakin diz que ele quer evitar que outras pessoas morram. Darth Vader, aos poucos, começa a nascer em sua figura.

Em Geonosis, Obi-Wan descobre uma reunião separatista liderada por Conde Dooku. O Jedi transmite as suas conclusões a Anakin para transmitir ao conselho Jedi, mas é capturado no meio da transmissão. Anakin e Padmé partem para Geonosis, após avisar o conselho, para resgatar Obi-Wan, mas também acabam capturados. Os dois são presos e mandados para uma arena, ao lado de Kenobi, onde lutam com criaturas medonhas. Agora, eles terão que tentar a sorte, ou esperar por um milagre. Com o conselho avisado da situação, é só uma questão de tempo para que Yoda (Frank Oz), Mace Windu (Samuel L. Jackson), e os demais Jedi cheguem e ajudem os mocinhos.

O “Ataque” dos Clones

Verdade seja dita, esse é o segundo filme dessa trilogia em que o subtítulo da película não se encaixa muito bem com a história que está sendo contada. Assim como A Ameça Fantasma, que até hoje ninguém sabe o que é, o título Ataque dos Clones sofre de um devaneio repleto de inconsistências com o decorrer de todo o filme. Os Clones são citados a todo momento, porém só partem para a ação realmente ao final da história, nos últimos 20 ou 15 minutos, em mais uma batalha sem graça, genérica e de pouco peso para os espectadores (repetindo o fiasco da batalha final do Episódio I). Diferente da trilogia clássica, os soldados aqui são feitos inteiramente em CGI, mais uma vez ocasionando um certo desconforto para quem acompanha a película. Fala sério, pessoal, qual a dificuldade em colocar atores reais dentro de armaduras de plástico? Os três primeiros filmes originais fizeram isso sem contrariedade e, em decorrência disso, estão bonitos até hoje. Ataque dos Clones, por utilizar muita computação gráfica (o primeiro filme da história a ser 100% digital), visto hoje em dia envelheceu muito mal. Me arrisco a dizer que alguns jogos da atualidade têm gráficos mais bonitos do que os efeitos do Episódio II.

Em relação aos efeitos especiais, também vale salientar que toda a sequência no planeta oceânico Kamino é vergonhosa. Ewan McGregor notoriamente passa longos minutos de filme interagindo com uma tela azul, onde os personagens parecem ser desprovidos de vida e personalidade, o que é uma pena, visto que McGregor é um excelente ator e sua ótima interpretação do sábio e já experiente mestre Jedi é um destaque de toda película. Até o Jango Fett, um personagem que tinha muito potencial, vai na onda do esquecimento e da falta de presença, justamente por ser outro personagem feito inteiramente em computação gráfica. Muitos anos se passaram, mas George Lucas passa uma impressão de regressão quanto a seu trabalho na trilogia anterior.

Sem dúvida, outro dos grandes problemas desse filme é o romance forçado entre o casal protagonista. A falta de carisma e talento do jovem Hayden Christensen fica escancarada em toda cena que ele aparece; Natalie Portman, embora seja uma talentosa atriz, e uma das melhores coisas das prequências de Star Wars, também sofre em diversas cenas pela forçação de barra que o roteiro faz com sua personagem, desesperadamente, no intuito de fazê-la se apaixonar pelo personagem de Christensen e, consequentemente, fazer ele se apaixonar por ela. O romance não funciona e a impressão que fica é que George Lucas escreveu uma história de amor sem ao menos conhecer o significado desse sentimento.

Os ápices do filme também são outro grande incômodo para os fãs da franquia e espectadores em geral. A batalha em Geonosis, onde temos uma arena repleta de Jedi, prontos para a batalha, é patética. Sinceramente, jogar inúmeros personagens em um local e preparar uma grandiosa cena pareceu não ser a intenção do diretor aqui. A câmera nos mostra Jedi por Jedi, apenas mexendo seus sabres de luz e matando robozinhos descartáveis; até o C-3PO, um personagem super interessante e querido dos fãs, aqui é feito de palhaço e colocado no campo de batalha apenas para contar piadas sem graça e passar vergonha. É exatamente isso que todo mundo imaginava para uma grande cena com os mestres usuários da Força, não é, senhor George Lucas? Simplesmente deplorável. Seguindo isso, temos a batalha final do filme, que como eu já disse anteriormente, não tem personalidade, por ser feita completamente em CGI, e carece de um bom desenvolvimento. Mace Windu, o personagem de Samuel L. Jackson, mais uma vez, é subaproveitado, aparecendo em meia dúzias de cenas (em sua maioria andando e conversando), e completamente esquecível, igual a todos os outros Jedi dessa trilogia.

O experiente e poderoso Mestre Yoda de Frank Oz também é outro que sofre, mais uma vez, com o desenvolvimento do fraco roteiro, e tem apenas um momento de destaque, na cena final, onde luta dando piruetas ridículas contra o vilão do filme, interpretado por Christopher Lee. Lee, embora seja um bom vilão, é outro personagem importante que não tem muito destaque no filme, aparecendo praticamente apenas do meio para o final da história. O já falecido ator nos entrega uma ameaça mais amedrontadora que a de Ray Park no filme anterior, mas ainda assim não mostra completamente a que veio e suas motivações são um pouco confusas. Ao final da batalha, é contado que as famosas e altamente citadas Guerras Clônicas começaram, mas aí eu te pergunto… por que George Lucas não deixou todo esse romance babaca e cenas genéricas de lado e focou em contar essa história, que todos os fãs sempre almejaram ver, nesse filme? Um desenho envolvendo esse período da história de Star Wars após algum tempo foi produzido em formato de série animada, mas garanto que todo mundo sempre quis ver isso em live-action. Fica a dica para a DisneyLucasfilm explorarem isso em algum dos filmes que compõe sua nova antologia de produções.

Ainda na batalha final, temos também participações de Evan McGregor e de Hayden Christensen na luta contra o personagem de Christopher Lee. Os atores se saem até bem, mas nenhum de seus movimentos ou golpes se tornam memoráveis ou marcantes. Saindo de todo esse núcleo, a trilha sonora de John Williams novamente é um deleite à parte. O compositor capta toda a energia do filme e nos presenteia com novas trilhas magistrais que tornam até os momentos ruins e esquecíveis em bons e “assistíveis”. Across the Stars, o tema do romance patético entre Anakin e Padmé, é, ironicamente, uma das melhores coisas do filme, e uma das faixas mais lindas de toda a franquia.

Ataque dos Clones, assim como A Ameaça Fantasma, é um fraco e esquecível longa, com uma história cansativa e pouco convidativa. Diferente de O Império Contra-Ataca, o filme do meio da trilogia anterior, que deixou todo mundo ansiosíssimo para o capítulo final, o Episódio II passa longe de cumprir essa tarefa; deixa os fãs desesperançosos e descrentes que o terceiro capítulo da trindade de filmes seja bom. Porém, para a surpresa de todo mundo, A Vingança dos Sith, o capítulo final da trilogia, é um dos melhores filmes de toda a franquia, e faz com que todas essas prequências valham a pena. Mas esse é um assunto para outra crítica.

Star Wars – Episódio II: Ataque dos Clones (Star Wars – Episode II: Attack of the Clones) – EUA, 2002, cor, 136 minutos.
Direção: George Lucas. Roteiro: George Lucas e Jonathan Hales. Produção: Rick McCallum. Música: John Williams. Cinematografia: David Tattersall. Elenco: Ewan McGregor, Natalie Portman, Hayden Christensen, Ian McDiarmid, Ahmed Best, Samuel L. Jackson, Christopher Lee, Anthony Daniels, Kenny Baker, Pernilla August, Frank Oz, etc.

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Sobre o Autor

Apaixonado por quadrinhos, cinema e literatura. Estudante de Matemática e autor nas horas vagas. Posso também ser considerado como um antigo explorador espacial, portador do Jipe intergaláctico que fez o Percurso de Kessel em menos de 11 parsecs — chupa, Han Solo!